Você executa (mesmo) seu planejamento estratégico?

21 de novembro de 2017, postado por Haim Mesel

Construir um planejamento estratégico é, antes de tudo, uma decisão inteligente para negócios de qualquer porte. No primeiro artigo desta série, expliquei porque empreendedores e gestores que adotam a ferramenta conseguem aumentar sua competitividade e se destacar entre os concorrentes. Também indiquei como realizar um planejamento estratégico. Agora é hora de falarmos sobre outra fase fundamental: a execução.

Essa etapa é ainda mais importante do que a anterior, pois traz para a realidade tudo o que foi planejado. Entretanto, nossa experiência na Triaxis e estudos que acompanhamos mostram que muitos empreendedores não colhem os frutos do planejamento por diversos motivos ‒ sobretudo por falhas na execução. Por isso, neste artigo serão apontados os erros mais comuns na execução e quais as soluções possíveis.

Podemos dizer que a execução nada mais é que a realização coordenada e sincronizada do que foi definido no planejamento estratégico. Ela permite transpor metas, objetivos e prazos para o mundo real. O planejamento, por si só, não vai levar a empresa aos objetivos que foram deliberados. Ele é o mapa, um guia, como pontuamos no texto anterior desta série sobre planejamento estratégico. A concretização dos objetivos só vem com a execução e, para tanto, ter disciplina para realizar as ações necessárias é fundamental.

Ao pensar sobre a relação da fase da montagem do planejamento com a da execução, uma metáfora pode ser útil:

Se o crescimento da empresa fosse um rally, o planejamento estratégico seria o navegador; o empreendedor, o piloto; a execução, a estrada.


O navegador vai indicar as melhores rotas, as que têm mais chance de sucesso. Mas é o piloto quem vai levar o veículo pelo caminho onde, eventualmente, podem surgir perigos inesperados. O navegador prepara o piloto com informações relevantes e mostra aonde devem chegar. Mas só ao enfrentar a estrada é possível sair da largada à chegada; não há outra maneira. Em outras palavras, é a execução que faz as coisas acontecerem.

Por que os planejamentos estratégicos falham na hora da execução?

Algumas vezes, os erros capitais são cometidos na elaboração do planejamento estratégico. Um deles é montar uma estratégia desalinhada com os recursos da empresa, como pontuamos no primeiro artigo. No entanto, a maior parte dos equívocos tende a ocorrer durante a execução, como vemos no nosso dia a dia como consultores, em trabalhos de autores renomados e em outras fontes. Um estudo feito em 2013 pelo Project Management Institute (PMI) em parceira com a revista The Economist, com mais 500 executivos seniores ao redor do mundo, mostrou que 61?les sofrem para suprir a lacuna entre a formulação e a implementação da estratégia.

O mesmo estudo aponta que as “melhores executoras” completam 20% a mais seus objetivos estratégicos do que as demais.


Os criadores da poderosa ferramenta de gestão Balanced Scorecard, Robert Kaplan e David Norton, nos fornecem mais dados que comprovam como a maioria dos gestores dedica-se muito mais à elaboração do planejamento que à execução. Segundo as pesquisas feitas por eles para o livro Execução Premium (ed. Campus/Elsevier), 60?0?s empresas ficam distantes dos objetivos definidos em seu planejamento estratégico. Em entrevista à HSM Management Brasil, Kaplan e Norton discorreram sobre os principais motivos que levam a esse alto índice de falha na execução dos planejamentos:

  1. Líderes que não se comunicam bem com suas equipes, o que afeta a articulação da estratégia;
  2. Não fazer o alinhamento da estratégia entre unidades de negócio, que precisam estar integradas sob uma mesma coordenação;
  3. Ter definido, no planejamento, recursos inadequados ou insuficientes para a execução projetos e atividades essenciais à estratégia;
  4. Basear seu sistema de gestão em sistemas e relatórios financeiros focados em desempenhos passados, que não contribuem com a orientação da empresa para um melhor desempenho futuro.


Na nossa experiência na Triaxis, percebemos que é comum, inclusive, que alguns empreendedores se deixem levar apenas pelo “charme” da elaboração de uma estratégia - um processo desafiante e empolgante - e percam o brilho dos olhos quando chega a fase da execução, que envolve atividades repetitivas e trabalho duro.

Desse modo, podemos eleger também alguns comportamentos nocivos por parte de empreendedores e gestores durante a execução do planejamento estratégico:

  • “Encantar-se” com a fase da elaboração da estratégia e deixá-la de lado em seguida;
  • Delegar toda a execução e não se envolver no trabalho;
  • Não deixar claro quais são as responsabilidades de cada membro do time em relação aos objetivos traçados;
  • Concentrar a execução do planejamento somente em alguns períodos do mês ou do ano;
  • Não acompanhar os resultados rotineiramente.

Como garantir uma boa execução e reduzir a distância entre sua empresa e seus objetivos?

Focados em solucionar o problema de descasamento entre estratégia e execução, no livro Execução Premium, Norton e Kaplan sugerem um sistema de gestão que conecta estratégia e gestão operacional, criando as bases para uma execução de qualidade, com consequente melhoria de resultados para as empresas. O modelo pode ser visto na figura abaixo:



O modelo proposto por Norton e Kaplan prevê o encadeamento contínuo de seis etapas, que integram a formulação da estratégia, planejamento estratégico e execução operacional.

As etapas de 1 a 4 tratam da elaboração do planejamento estratégico. Aqui vamos dar uma atenção maior ao que vem na sequência: a execução, que surge entre as etapas 4 e 5. É quando resultados e necessidades de ajustes começam a aparecer, o que nos leva às etapas 5 e 6. Nelas, abre-se uma grande oportunidade de aprendizado para a empresa, pois os indicadores de performance são medidos (etapa 5) para que sejam realizados testes e ajustes (etapa 6). Em outras palavras, todas as informações processadas na execução e as que são recebidas de agentes externos são usadas para adaptar a estratégia, o que dá início a um novo ciclo no sistema.

Não por acaso, a nossa metodologia de planejamento e acompanhamento, utilizada em um grande número de empresas, engloba este conceito:



Como visto na imagem acima, na Triaxis condensamos tudo em quatro estágios:

Planejamento estratégico: ajudamos as empresas a desenvolver, planejar e alinhar as estratégias, operações e o orçamento. Nossa metodologia de planejamento foi explicada em detalhes no primeiro texto sobre o assunto.

Execução: feito o planejamento estratégico, a empresa e seus gestores devem compartilhar o plano com a equipe e dar início à execução de tudo que foi previsto na etapa anterior, de forma contínua. O trabalho deve ser mantido até o início do próximo ciclo de planejamento, que geralmente ocorre com intervalo de um ano.

Monitoramento: na maioria das empresas em que trabalhamos na confecção do planejamento, após o início da execução, nós voltamos a participar ativamente do processo e implantamos um modelo de monitoramento baseado em indicadores, os KPIs, estratégicos, operacionais e financeiros. Eles são apurados mensalmente, à medida que a empresa executa o planejamento. Utilizamos o software da Siteware (um dos negócios em que investimos) para dar visibilidade sobre estes KPIs para os gestores da empresa e demais stakeholders. No nosso processo de monitoramento, fazemos junto com a empresa uma análise mensal dos desvios ocorridos em cada um dos KPIs, bem como de suas causas.

Correção e ajustes: ainda como parte do nosso trabalho de agregar valor às empresas apoiadas, criamos plano de ação para corrigir cada um dos desvios que possam aparecer, com base nas informações geradas na etapa de monitoramento. Também apoiamos os gestores na tomada de decisão sobre eventuais estratégias emergentes que porventura venham a surgir.
Para complementar o que tratamos até agora, posso destacar a importância da criação de uma rotina, no mínimo mensal, de acompanhamento dos indicadores do planejamento estratégico - processo correspondente à fase 3 da nossa metodologia. Em empresas que não contam com consultorias especializadas em planejamento estratégico, esse monitoramento pode ser feito por um comitê selecionado entre os responsáveis pela execução.

Esse comitê passa a analisar o andamento dos projetos através dos KPIs. É preciso responder perguntas como “Quais foram os resultados?”, “Os projetos que estavam previstos, andaram?”, “As metas foram atingidas?”, “Como estão os KPIs?”, “Como está o caixa?”. O grupo também avalia os principais desvios que estão ocorrendo e quais suas causas.

A sugestão do acompanhamento no mínimo mensal é para que possíveis erros, perdas, crescimentos abaixo do esperado e outros fatores indesejados sejam corrigidos o mais rápido possível e não se acumulem (fase 4 da nossa metodologia). Um exemplo: se a execução foi mal em janeiro, em fevereiro será preciso não apenas executar projetos e atividades previstos para fevereiro, mas também recuperar as perdas de janeiro, sob pena de comprometer os objetivos que farão a empresa crescer.

A execução é um trabalho árduo. Mas as empresas que conseguem desenvolvê-lo estão mais aptas a se desviar das ameaças externas e a aproveitar as oportunidades, objetivo primordial do planejamento estratégico.

Agora que você chegou até aqui, provavelmente já sabe que a resposta à pergunta do título deste artigo geralmente é “Não.” Se for o seu caso também, saiba que as ferramentas descritas aqui podem ajudar você e sua empresa a fazerem da execução do seu planejamento estratégico um verdadeiro ponto de virada. No próximo texto desta série, vamos abordar sua importância como líder no sucesso da execução da estratégia do seu negócio.

Facebook Linkedin